Mid-Pacific Conference on Birth and Primal Health Research

E foi assim que quatro meses após Las Palmas, Michel e eu fomos para Honolulu, com a intenção de reunir mais uma, vez um grupo de profissionais do nascimento – midwifes, doulas, e médicos – para organizarmos nosso novo evento.

Assustei chegando em Honolulu, achei tudo absurdamente caro, tive medo do que seria organizar algo ali. Uma vez mais reunimos um grupo bacana de pessoas em torno de um almoço, após um evento que Michel realizara para umas 100 pessoas.

A escolha do local e data é sempre o primeiro ponto e decidimos pelo Hawaian Convention Center, bem no Centro de Honolulu. Não havia um outro local grande para a conferência. Tivemos um encontro com a diretora desse Centro de Convenções, June Matsumoto, e ela se tornou amiga, parceira e defensora do nosso evento!

Oskar Santiago que no final do Congresso de Las Palmas entrou para somar com Eva Darias da Editora Ob Stare (obstare@obstare.com), encarregada das inscrições em Las Palmas, assumiu logo a parte das inscrições e assim começamos a organizar a Mid-Pacific Conference on Birth and Primal Health Research que iria ocorrer em outubro de 2012.

A composição da Programação cientifica foi se tornando cada vez mais interessante conforme Michel ia selecionando palestrantes que não se conheciam, falavam de temas diversos mas, que se interligavam no âmbito das consequências a longo prazo da maneira como nascemos. Um dos artigos do Michel foi o “Honolulu Great Wake-up Call”.

Qual o futuro da capacidade de amar? Esta e outras perguntas seriam debatidas com base no sistema de funcionamento da ocitocina e discutiríamos o futuro do relacionamento entre os seres humanos e o mundo dos micróbios, a partir do modo como nascem os bebês.

Bacana frisar que nessa conferência foi a primeira vez que, oficialmente se falou da importância da colonização microbiana na hora de nascer, como algo fundamental para o sistema imunológico humano. Aprendemos de forma clara a diferença entre uma cesariana e um parto vaginal do ponto de vista imunológico.

Mais uma vez conseguimos adesões, mas nos Estados Unidos não é muito comum o trabalho voluntário na organização de um evento e todos os quesitos relativos à conferência eram de um custo absurdo. Não conseguimos apoio formal de nenhuma instituição local de peso. Tínhamos conferencistas do ICM, do Royal College de Midwives, da OMS, mas não era suficiente.  Nos meses que antecederam o Congresso, enquanto Michel estava cada vez mais animado com a Programação cientifica, eu enfrentava dificuldades na produção da Conferência.

Era necessário por exemplo alugarmos os “booths”, pequenos stands para os poucos patrocinadores que conseguimos, e em Honolulu apenas dois lugares têm essas estruturas. O primeiro orçamento foi de U$ 8000 por 7 desses stands e o segundo foi ainda mais salgado: U$10.000. Havíamos conseguido em torno de U$7.500 de patrocínio, então imaginem pagar para ter stands!!! Tínhamos um grupo pequenininho de pessoas bem comprometidas e também muito sem grana... conhecemos um rapaz através da Piper, uma ativista, e ele confeccionou estruturas em bambu que ficaram absurdamente lindas!!!

Summer, Piper, Star New Land, Nicky, June Matsumoto foram pessoas locais sem as quais nada teria sido possível. A essa turma se somavam Julia Jeppesen e Oskar Santiago que vieram de Las Palmas e meus três filhos Lucas, Isabel e Noé que, por possuírem experiência em Congressos anteriores que eu havia organizado – incluindo o de Las Palmas – foram fundamentais nos últimos dias de organização e bem como durante o evento.

Devo dizer que trabalhando perto do Michel, jamais o vi alterar a voz e se estressar, ele é sempre positivo, sempre procura olhar cada questão no melhor ângulo. A data da Conferência se aproximava e foi ficando claro que não iríamos conseguir pagar os custos. Chegar ao Hawaii já é um custo bastante alto, assim a própria viagem inviabilizou a presença de um maior grupo de pessoas, mesmo a inscrição sendo bem acessível. Era contrastante a alegria de Michel e minha preocupação com respeito às finanças. Foi a primeira vez que Michel falou realmente duro comigo. Entendi que, de alguma forma o que é totalmente aceitável na nossa sociedade, como os gastos de uma grande festa de aniversário, para Michel não fazia tanto sentido, quanto juntar aqueles pesquisadores de áreas distintas do conhecimento, que não se conheciam, para pensarem juntos as consequências da forma que nascemos interferindo na nossa saúde e no futuro da civilização humana. Foi assim que conseguimos realizar um evento de altíssimo nível científico provocando uma baixa na reserva financeira de Michel. Em torno de dois anos depois, ele me contou em poucas palavras: repus as perdas do Hawaii...ufa!!!

O Congresso contou com o apoio e a presença dos prefeitos de Honolulu e de Big Island. Tive a oportunidade de estar com o Billie Kenoi de Big Island, duas vezes antes da Conferência. Ele era havaiano, campeão de luta Sumo e dançarino do Hula-Hula – soube que é uma dança originalmente masculina e só se tornou a dança que conhecemos, com mulheres, após a ocupação Americana no Hawaii. Billie Kenoi entendia a importância do tema que trazíamos e seu suporte foi fundamental tanto a nível político como para o alcance da mídia local.

Mais uma vez conseguimos um apartamento de uma antiga fã do Michel, a Naoko Natsume, cujo pai Hiromi Inoue, obstetra japonês, havia conhecido Michel em uma de suas visitas ao Japão, também veio participar como palestrante em Honolulu. O apartamento ficava perto de Waikiki, no final do dia era certo o nosso mergulho no mar.

Fui me apaixonando pelo Hawaii dos Polinésios, suas histórias incríveis de reis e rainhas! Dos navegadores, do surf, das danças, das comidas maravilhosas! De moradores potentes com histórias pra contar, das rezas e plantas poderosas. Do Aloha e do Mahalo!!! Do céu cheio de arcos-íris!

Um dos costumes que me encantou foi o de receber os visitantes com colares de flores. Essas flores naturais têm um cheiro maravilhoso, é como receber um colar de perfumes. Com o intuito de divulgar a Conferência também nas outras ilhas, realizamos vários eventos durante os dois anos que antecederam a Conferência. Fomos recebidos com colares de flores em vários desses eventos.

Estava decidida que quando a delegação brasileira chegasse ao aeroporto deveria ser recebida com colares de flores e um imenso ALOHA!!! E assim foi, não só com a delegação brasileira, mas com todos os palestrantes.

Com muita satisfação me lembro que Michel além da elaboração da maior parte da programação cientifica foi o responsável pela reserva e compra de todas as passagens dos palestrantes e comissão organizadora. Michel é sem dúvida eficiente na compra de bilhetes aéreos, sabe negociar, entende das conexões mais rápidas, melhores voos, melhores preços. Ele se declara um cidadão universal, que não pertence a nenhum país, mas ao mundo, um estudante da natureza humana.

A Conferência foi um sucesso absoluto, tudo deu certo, as palestras foram incríveis. Muitas portas se abriram para novas pesquisas e conhecimentos futuros.

A Conferência contou com participantes de 56 países sendo o Brasil o terceiro pais que mandou mais participantes. EUA e Nova Zelândia foram os dois primeiros. O número total de participantes foi de 832 pessoas, sendo 88 brasileiros, 80% eram enfermeiras obstétricas. A Conferência recebeu apoio formal dos prefeitos Billy Kenoi e Carlise assim como do governador do Estado do Hawaií Neil Abercrombie.

 

 Heloisa Lessa


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