Mães de Santa - Grupo de Gestantes no Morro dos Prazeres

“Que púbico acessa os conhecimentos de Michel Odent?” - foi uma das reflexões da Assembleia do IMO realizada em maio de 2018, e que apontou para a necessidade de levá-los para grupos que provavelmente não o conheciam. 

No Brasil, país com sistema público e universal de saúde (o SUS) e com populações tão diversas, os grupos de “educação popular em saúde” são ferramentas de grande valor. São rodas de conversa que acontecem nas unidades de saúde e/ou nas comunidades, que podem tratar de diversos temas, e aproximam profissionais e população de forma mais horizontal. Nos grupos surgem questões que muitas vezes não aparecem nos espaços formais de consulta clínica, mas que encontram espaço nesses encontros coletivos. 

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Com a intenção de expandir o alcance dos conhecimentos de Odent, e valorizando o SUS e suas práticas, o IMO propôs uma parceria com o Centro Municipal de Saúde Ernani Agrícola, o “Posto de Saúde de Santa Teresa”, para juntos realizarem grupos de gestantes no Morro dos Prazeres.

 

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Os encontros iniciaram em julho de 2018, semanalmente, em local fixo - o Casarão dos Prazeres. Convites foram feitos inicialmente para cada gestante atendida pela Equipe de Saúde dos Prazeres. O grupo começou pequeno, porém grandes eram os desafios: a violência armada na comunidade, a frequente falta de outros profissionais na unidade de saúde impedia que a equipe se deslocasse para o grupo; a dificuldade inicial por parte da população de compreender e valorizar esses encontros, etc. 

A primeira gestante que participou foi em busca de atendimento clínico/ obstétrico. O marido, sabendo que encontraria profissionais “do postinho” no Casarão, foi em busca de uma receita de anti-inflamatório, pois sua esposa sentia “dor na panturrilha”. Havia procurado a maternidade, mas fora orientada a realizar massagem e medicação para um “estiramento muscular”... O marido foi então orientado a trazer a esposa gestante até o Casarão, e o casal foi encaminhado para avaliação em Hospital Miguel Couto, onde ela permaneceu internada por mais de um mês, com diagnóstico de trombose venosa e arterial extensa… Assim como esse, outros casos de busca por atendimento aconteciam no início do grupo. A comunidade passou a saber que naquele local e horário poderia encontrar a equipe para “questões de mulher e de criança”.

Aos poucos foram chegando mais mulheres, e as rodas iam aumentado. Foi feito um planejamento conjunto de temas de interesse, mas sempre garantindo espaço para acolher temas que surgiam ao longo da semana. Mudanças no corpo da mulher durante a gravidez, fisiologia do parto, dor no parto, amamentação, puerpério, sexualidade na gestação, a chegada do irmão mais novo, entre outros, foram temas escolhidos e conversados. Práticas corporais também passaram a fazer parte dos encontros: alongamentos, massagens, shantala,... O grupo foi se tornando unido, se fortalecendo enquanto rede de apoio mútuo. Quando o espaço do Casarão não estava disponível, os encontros aconteciam na Associação de Moradores ou nas casas das mulheres. Alguns momentos bastante especiais aconteceram assim, quando reuniam várias gerações de mulheres, em suas casas, oportunizando resgates das histórias de parto nas diversas gerações.  

O grupo seguiu crescendo, nasceram os bebês das primeiras gestantes, que seguiram frequentando, então enquanto puérperas com seus bebês. Além dos encontros coletivos, a partir do grupo as mulheres da comunidade dos Prazeres que apresentavam dificuldades para amamentação receberam visitas domiciliares de enfermeira obstetra Heloísa Lessa (IMO). Aos poucos foram chegando também mulheres de outras comunidades de Santa Teresa:  Fallet, Coroa, Escondidinho,... 

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Foi criado um grupo de whatsapp, que se definiu como “Mães de Santa”, e passou a ser uma potente ferramenta de comunicação. No grupo, que hoje conta com 50 participantes, além acessar informações práticas sobre os encontros e sobre o funcionamento no posto de saúde, as mulheres trocam experiências, oferecem doações umas às outras, e recebem orientações em saúde por parte das profissionais que apoiam o grupo.

Em março de 2020, com a chegada da pandemia, os encontros presenciais foram suspensos. Durante algumas semanas foram realizados encontros virtuais através da plataforma Zoom, porém o grupo de profissionais não conseguiu dar continuidade. Hoje o grupo se mantém via whatsapp, até que possa ser retomado… 

Voltando ao questionamento inicial daquela assembléia de maio de 2018, sobre “que público acessa o conhecimento de Michel Odent”, podemos dizer que através do Grupo de Mães de Santa, seu conhecimento foi um tanto mais difundido entre as mulheres da periferia, e que teve impacto sobre as formas de gestar, formas de nascer, formas de experienciar a maternidade, segundo relatos de algumas das mulheres/ mães do grupo.



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