Heloisa Lessa apresenta Michel Odent

Apresentar Michel Odent...
Que honra e que desafio.

Por Heloisa Lessa – Poderia falar de sua vida na guerra da Argélia, da maternidade de Pithiviers, das piscinas de parto, do primeiro artigo científico revelando que um bebê recém-nascido pode mamar. Essa talvez, seja sua parte conhecida, desvendada.

Tive um desejo enorme de falar de um estudioso que viaja o mundo inteiro e que não tem realmente, nenhum prazer, nenhuma vontade de conhecer o Pão de Açúcar, os pontos turísticos incríveis de cada pais e cidades aonde é convidado para conferências. Seu Ser pesquisador faz sempre perguntas inusitadas que algumas vezes deixam seus anfitriões, como eu, um pouco, tanto desconcertados. Taxas populacionais, índices de cesárea, partos induzidos, consumo de peixe são temas de perguntas do cotidiano de quem convive com Michel. Em sua rotina não existe, sábado, domingo, feriado, festas, família (o que faz a alegria dos humanos normais) mas inclui leituras e uma busca incessante de novos conhecimentos: tudo pode ser observado, interrogado, tudo pode ser útil para alguma conexão, nesse universo da importância da maneira de nascer, para o futuro da humanidade.

Clara, Odent, Caetano, Nina e Maria

Clara, Odent, Caetano, Nina e Maria

 

Seu jeito simples de viver lhe permite viajar com uma maleta de mão pra China, Brasil ou Holanda. Prefere os alimentos saudáveis, não perde nem um minuto com coisas frugais, seu tempo é por demais precioso.

Seu fascínio por crianças e seu jeito de se comunicar com elas é emocionante, sua simplicidade e a facilidade em achar assuntos de interesse com todos é surpreendente; é fácil para ele entreter o pai na cozinha enquanto a mãe está em trabalho de parto com a Doula.

Sua dedicação maluca a leitura, à busca insana de novos conhecimentos já é antiga, talvez do tempo em que menino, fazia o dever dos amigos, enquanto esses iam jogar. Sua dedicação absoluta ao trabalho pode ser avaliada no número de faltas contabilizadas durante sua vida laboral: uma.  

Sua memória com as pesquisas e datas que cita é notável. Demonstra um certo prazer desse feito e após ter recitado com precisão aquele rol de artigos com as datas, autores e tudo mais observa as expressões do público. Sempre testa a si mesmo e checa cada detalhe que realce um dado ainda obscuro do assunto em questão.

Quando li Michel pela primeira vez, (Gênese do Homem Ecológico) em 1998, reconheci ali meu próprio valor, a base cientifica da minha existência como parteira urbana que nesse momento nem imaginava o significado futuro de, vez ou outra, atender partos em casa.

As duas representantes das mulheres indígenas de Iaueretê, que participaram como palestrantes, no I Congresso Internacional Ecologia do Parto e Nascimento, realizado com a Faculdade de Enfermagem da UERJ, Rio de Janeiro, em 2002, após ouvirem Michel vieram agradecer, emocionadas. Para elas conhecer o mar, as montanhas do Pão de Açúcar e o Corcovado era algo muito especial, pois essas imagens faziam parte dos seus mitos indígenas. No entanto, ouvir um homem branco sábio dizer que parir em silencio, em privacidade, como sempre o fizeram, era o correto, era algo que jamais haviam imaginado. Michel frisa que a ciência tem nos ajudado a descobrir a importância do que é simples.

Os dados científicos estão aí, espalhados pelo mundo, perdidos nos bancos de dados especializados nos quais Michel garimpa diariamente, a fim de alimentar o Primal Health Research Centre. Em relação ao futuro da espécie humana, Michel flerta com a utopia e passeia entre a ideia de que estamos no fundo do poço ou à beira do abismo.

A leitura de: “Pode a Humanidade Sobreviver à Medicina? Nos revela um conteúdo um tanto indigesto.  Indigestão essa, que por vezes, provocam reações que o autor já conhece de longe, do tempo em que ao falar para um auditório de médicos em Roma (1977) sobre a possibilidade do bebê achar o peito na primeira hora de pós-parto, o repúdio foi de tal ordem que metade do auditório se retirou.

Traduzir Michel Odent exigiu um esforço especial. A tradução procurou ser literal. Sua forma simples de escrever e pouco acadêmica de apresentar os avanços técnicos e científicos não é nada usual e nos remete a simplicidade e naturalidade que a vida pode ser. Talvez também por isso, este livro seja tão fundamental, Michel nos traz razões para buscarmos uma nova forma de existir. Ele nos propõe uma “Revolução Simbiótica” da qual todos devem participar."

Assim como eu, incontáveis mulheres e profissionais de saúde no Brasil, vêm se beneficiando do conceito das necessidades básicas da mulher em trabalho de parto, a força do desligamento do neo-cortex e a fisiologia da mãe e do bebê no processo de gestar, parir e amamentar. A segurança, a partir do simples “ato de” proteger o ambiente, proteger a mãe e o bebê para o processo involuntário acontecer.

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Michel Odent Primal Health V17 2010